quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Trinta

Aos poucos envelheço, mas não me considero velho e muito menos antiquado. Relaciono-me bem com os que são juvenis hoje, conheço sua linguagem, sua música, sua bandeira. Envelheço e sou ainda tão jovem. Não tenho idade para deixar de existir, mas tenho para assumir as conseqüências de meus atos. Tornei-me um adulto.

Casei com a primeira mulher que disse que me amava. Conheci-a aos 16, a pedi em namoro aos 20, em casamento aos 26 e hoje aos 30 eu só lhe peço que cuide de mim. Ao unir-me com ela, aprendi a dividir coisas como tempo, dinheiro, espaço e liberdade. Passei a compreender, ainda que parcialmente, costumes e dificuldades estranhos. Comecei a investir qualidade de tempo para cuidar de corpos e corações. Ao unir-me com minha esposa passei a ser responsável por uma família: cresci como ser humano.

O casamento, além de me proporcionar condições de crescimento social e espiritual, presenteou-me com duas filhas. Foi através da experiência da paternidade que entendi o quanto devemos amar incondicionalmente uns aos outros. Minhas filhas retribuem com sorrisos e beijos o suor do meu rosto. Se eu agisse conforme o pensamento vigente deste mundo, elas estariam em grande dívida comigo, mas não é assim que as coisas devem ser. Eu gasto tempo e dinheiro, abro mão de planos e desejos de consumo, invisto em coisas que não são de meu interesse, simplesmente pela necessidade delas. E me satisfaço com isso. Não espero receber nada em troca. Quem me dera que o planeta estivesse cheio de pessoas agindo em prol da subsistência das outras sem esperar retorno.

Envelheço dia a dia. Os cabelos já se apresentam em menor número, as marcas e sulcos no rosto já são um pouco mais indiscretas e os calcanhares se enrijecem feito pedra-pome. Ainda que sinais como estes apareçam no espelho, ainda não tornei um velho. Creio estar iniciando a travessia da ponte da meia-idade, sou novo demais para afirmar vivência e maturidade, sou velho demais para relaxar e não arregaçar as mangas.

Quando criança era totalmente dependente. Até mesmo para poder me alimentar dependia das mãos do meu pai e do cuidado de minha mãe. Com o passar dos anos, comecei a dividir timidamente as despesas com minha mãe, mas ainda não era responsável por nada. Hoje, após ter recebido sustento por mais de 20 anos, assumi o papel do supridor, de quem atende as necessidades de um lar.

Balancei as flâmulas da mocidade deixando para traz as pegadas da infância, troquei as bermudas por calças jeans, deixei o cabelo e a barba crescer, passei a usar título de eleitor, shampoo anticaspa e gravata, mudei o turno escolar, substituí a teimosia infante por palavrões.

Em 30 anos de vida experimentei crescimento físico, emocional e espiritual. Não estou nem velho nem novo. Passei para a fase que só existe para delimitar os grupos de idosos e jovens.

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