quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Fama: consumismo maldito

Depois de meses de recuperação de um tratamento intensivo contra a evolução de um tumor, ocorreu um acidente de trânsito que o deixaram impossibilitado de trabalhar. Estes episódios fadaram Paul Potts a acumular uma dívida suntuosa e a encarar posteriormente o trabalho de vendedor de celulares para poder se manter. Manteve em segredo sua inscrição no “Britain’s Got Talent”, programa do ano de 2007 em que saiu como o grande vencedor, aclamado por milhões, revelado como grande estrela. Paul Potts tornou-se celebridade.

Com o passar dos dias, Potts adquiriu involuntariamente o fungo mortal da fama. A celebridade traz sempre este verme maldito em seu verniz: quem a adquire leva em conjunto a fama e somente uma dose de integridade e desapego ao material pode manter alguém praticamente ileso de seus efeitos nocivos.

A fama é como um câncer que consome os tecidos da humanidade; transforma o ídolo em alimento e o público em estômagos insaciáveis. Gente como Michael Jackson ou os Beatles perderam muito mais que a vida pública. Perderam o direito de opinar sobre assuntos delicados, perderam a oportunidade de errar, perderam a simplicidade de apenas não fazer nada.

O público consome tudo. Se o ídolo decide não viajar mais, é questionado por tal opção. Se o ídolo emagrece repentinamente, é indagado sobre substâncias ou viroses que por ventura venham a correr em suas veias. Se o ídolo possui excentricidades, recebe holofotes e colunas dedicadas a ressaltar suas nuances.

Nas primeiras transmissões do programa, Paul Potts não demonstrou confiança e não apresentou boa aparência. Potts chamou a atenção por sua exímia apresentação e extensão vocal. Seu talento pôde aflorar sozinho na primeira audição porque não havia o que dividisse espaço com ele como beleza, moda, carisma e muito menos fama. Competiu etapa por etapa e venceu o programa cantado ópera, língua que não é de domínio geral, não é normalmente apreciada por quem assiste concurso de calouro.

É apenas no período anterior a ascensão repentina de Potts, que o público realmente dedicou ao seu consumível alguma espécie de carinho. O público, ao ver um homem franzino, feio, não confiante e desengonçado, identifica-se imediatamente. Potts tornou-se momentaneamente um espelho, suas incompetências representavam uma multidão aglutinada em sofás e cadeiras posicionados do outro lado da tela do televisor.

Incorporado o tempero da fama, homens transformam-se em ídolos e fãs, e posteriormente em ração e animal respectivamente. Qualquer imagem, qualquer nota, qualquer informação, ainda que de fontes mentirosas, servem de alimento ao público-parasita.

Se Potts retornou a vender celulares ou está em turnê mundial, ainda não percebi nada nos canais de informação. Forço-me apenas saber como está sua vida. Não quero incorporar o perfil do público-parasita, não quero descriminar as escolhas ou os tropeços de alguém exatamente igual a mim. Já me é suficiente conhecer que um homem realizou maravilhas sem qualquer ajuda da fama.

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