terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mensagem ao meu Irmão

A vida é um verdadeiro vôo livre paralelo a um paredão de rochas pontiagudas. Os corajosos aproveitam melhor a aventura, pois a encaram como esporte radical. Sentem-se felizes com a adrenalina pela proximidade de chocar-se contra o lajeado. Os conservadores preferem um ritmo lento, ralando os dedos e os joelhos, pois entendem que é melhor descer à montanhista. Poucos são os que se atiram de ponta, abrindo os braços e desatando o nó da garganta.

Já vi gente prometendo uma vida sem problemas. Eram pessoas que afirmavam que Deus agiria em favor dos seus, transformando as dificuldades em céu de brigadeiro. Já não engulo mais a ladainha de que as tristezas e pressões do dia a dia são fruto do pecado e da pouca fé. Minha crença é que a vida esbofeteia a todos sem qualquer distinção. Tudo o que temos e recebemos são resultados de escolhas individuais, tanto nossas quanto de terceiros. É impossível correr da tristeza.

A motivação perde o pique com as ferroadas, a força amolece pelos coices, os sonhos se esvaem com os furacões. Os dias têm sido muito frios e as noites longas demais. Valentes de outrora se tornaram anciãos fatigados. A vida empurra todos ao mar adentro e não adianta nadar contra a maré.

A vida é dura, mas não é isenta de felicidade. Ser feliz é muito mais que livrar-se dos problemas. Alegria é muito mais que dinheiro no bolso, prato cheio, feriado prolongado e festa de aniversário. Os dias são maus, mas não impede a força da bondade – cabe a cada um promovê-la. Cada um por cada um.

Não creio que Deus esteja lá em cima salpicando adversidades para nos testar. Não consigo entender propósito nas durezas de uma pessoa sendo diagnosticada com câncer enquanto ao mesmo tempo tem gente esbanjando sossego, fruto de corrupção. Não aceito a explicação que Deus tem encolhido sua mão para alguns e estendido para outros. Será que ele permite que uma mulher abandone o lar, o marido e os filhos simplesmente para provar a fé da família?

Quando converso com Deus e comento sobre as dores dos dias, desabafando e revelando minha tristeza e indignação, percebo claramente que o plano dele não é o livramento. Deus quer que busquemos as coisas de cima, coisas que vem dos céus. Quer que sejamos nobres ao enfrentar com confiança tudo quanto é tristeza que venha pela frente. Buscar livramento é mediocridade diante de tanta coisa boa que existe por aí.

O coração azeda quando relutamos contra traições, abandonos, chifradas, chutes, temporais e cara feia. Mais vale queimar fosfato com as coisas simples e gente amiga. Melhor ainda é poder oferecer carinho e respeito sem ter qualquer retorno previsto.

Basta a cada dia o seu mal e qualquer esforço para enfrentar mais que isso é enfadonho. Enquanto engolimos sapos pelo caminho, cicatrizamos as feridas e desviamos os pés das topadas, as flores desabrocham, os pássaros cantam, os filhos abraçam e as mães sorriem. Melhor é fitar os olhos nisto.

Bem aventurados são os que choram, porque todos serão consolados.

domingo, 18 de outubro de 2009

Silêncio Amigo

Ultimamente venho sentindo uma angústia, um aperto no peito. É uma espécie de tristeza que vem de leve, que me deixa pensativo e taciturno. Em alguns momentos do dia prefiro ficar calado, pensando sobre meus dias e minhas escolhas. Tenho feito opções mais solitárias simplesmente para pensar e chorar.

Minhas reflexões me deixam tranqüilo quanto a tudo isso. Não estou afastado de Deus ou com um pesado fardo na consciência. Não estou devendo nada a ninguém, não fiz maldade alguma e não estou com grandes motivos para tal angústia.

Reconheço que minha vida é boa. Tenho uma situação privilegiada se comparada com a maioria das pessoas (o que não me coloca em destaque e nem deve) e o saldo é sempre de gratidão. Acontece que de vez em quando o coração dói, a alma fica murcha e o peito mingua. A vida fica um pouco mais cinzenta em momentos como este.

Tem horas que me sinto feito um zumbi que tateia as paredes procurando a saída do cemitério. Meus dias têm demonstrado alvoradas precoces e minhas noites tendem a me exigir um pouco mais de ânimo. A vida tem se tornado monótona demais e todas as minhas iniciativas e projetos tem tido baixíssimo aproveitamento. Quando há oportunidade de fazer aquilo que amo, o tempo tem sido inimigo.

Acho que é um pouco de cansaço. Entendo também que estou frustrado com meu trabalho. Gostaria de estar fazendo algo totalmente diferente. Mas, percebo que o silêncio tem sido um excelente facilitador de entender tudo isso. Pensar sobre a vida tem me permitido enxergar o que fazer para ter um futuro interessante. Tem valido a pena ficar quieto e pensar sobre mim.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Grande Paixão

Eu sou um apreciador de música de qualidade. Deus colocou os ouvidos muito próximos do cérebro e por isso acredito que é insalubre ouvir algo que não seja artisticamente bem feito.

Algumas canções são desconcertantes. Invadem a alma e a povoam de sonhos e saudades sem fim. Músicas que eu ouvia quando criança, como as trilhas sonoras internacionais de novelas ou as executadas nas propagandas da Hollywood, são as que mais trazem boas lembranças e me enchem de alegria. As músicas dos Beatles fortalecem-me no caminho da arte e da inovação.

Lembro-me que praticamente todos os sábados pela manhã meu pai e eu investíamos tempo para lavar o carro. Enquanto a tarefa era executada, deixamos o rádio sintonizado nas FM’s, saboreando cada faixa a cada minuto. Talvez seja por isso que a música pop dos anos 80 me seja tão familiar e saudosista. Artistas como Tears for Fears, A-ha ou Alan Parsons Project foram responsáveis por um percentual de minhas inclinações sonoras.

Existem canções que me roubam a fala, que trazem muito mais que boas lembranças. São músicas que me aproximam mais daquilo que realmente tenho grande paixão em fazer. Trata-se de canções que habitam meu coração e que praticamente já se tornaram parte do que sou. Músicas como My Sweet Lord do George Harrison, God Only Knows do Brian Wilson ou Dear Prudence dos Beatles são exemplos do que estou falando.

A música é um agente de transformação. Meu humor muda simplesmente com algumas melodias contagiantes. Como permanecer triste ao ouvir September do Earth Wind and Fire? Como não sentir a tristeza em Trocando em Miúdos de Chico Buarque? Como não sentir falta das canções de John Lennon?
Quem me dera poder apenas fazer música na vida!

domingo, 11 de outubro de 2009

Misericórdia Sufocada

Assisti há poucos minutos uma entrevista do Renato Russo, onde ele falava sobre a questão do homossexualismo no Brasil. Percebi certa confusão de pensamentos, apesar da grande inteligência que possuía, que levaram-me a um ponto de reflexão: as ações de misericórdia foram categoricamente sufocadas por legalidade.

O que penso sobre este assunto [e não estou falando sobre homossexualismo] é que o legalismo imprimiu determinada guerra entre misericórdia e o que podemos chamar de ordem da criação.

Para mim, a organização parece ser uma característica fundamental e do universo, ou seja, do próprio Deus. Basta ler o relato da criação no livro de Gênesis, onde tudo é metricamente criado, em sua ordem e previsão. Tal ordem da criação tem sido a essência da defesa dos cristãos. Afinal, a determinação de domínio da humanidade sobre as demais criaturas, a instituição da família e do casamento, tudo isto é relatado no Gênesis.

O mundo como Deus o criou está firmado em categorias fixas e violá-las é entregar o mundo ao caos. Mas, meu raciocínio é que os cristãos assumiram um posto de defesa tão belicoso, que esqueceram das ações de misericórdia, amplamente divulgado por Jesus Cristo, e desta forma afastaram-se de todo e qualquer plano divino. Enfim, deixo logo abaixo meu pensamento de forma exaustiva.

O primeiro aspecto que tenho em mente é que a retaliação contra a mulher é sempre firmada na ordem da criação. Adão veio primeiro, e a mulher foi criada para o homem; o marido é a cabeça da esposa; a mulher veio do homem, e não o homem da mulher. E tendo conhecimento desta ordem, a igreja impediu a ascensão da mulher ao ministério e sacerdócio em igrejas cristãs de todos os matizes.

Muito mais que impedi-las de crescimento social, à mulher foi concedido o posto de criatura de segunda classe. Ainda que não fosse assim criada, na ordem da criação ficou estabelecido que ela devia agir como se fosse.

Não só as mulheres sofreram com os cristãos. Os negros sofreram humilhações ainda maiores, pois sua dignidade foi arrancada com chicotes e pólvora. Por mais de 18 séculos a escravidão foi utilizada como forma de atividade econômica, sendo pacificamente aceita pela igreja.

A desculpa esfarrapada dada pela igreja para tamanha crueldade é que os negros eram descendentes do filho amaldiçoado de Cão, filho de Nóe, que fora condenado a servir seus irmãos. Tal panacéia foi amplamente promulgada no continente africano, sendo descrita como “sancionada em ambos os testamentos, utilizada em todas as épocas e encontrada nos países com maior desenvolvimento econômico e artístico”.

O Novo Testamento não oferece uma palavra de condenação à escravidão; ao contrário, em muitas passagens parece sancioná-la sem encontrar na questão qualquer dilema moral. Para os abolicionistas justificarem biblicamente sua posição era tarefa difícil, enquanto que os escravagistas tinham dúzias de versículos em seu favor. Dispor-se a lutar pela abolição era, em grande medida, dispor-se a lutar contra a Bíblia.

Houve pastores que anunciaram não existir motivos para casamentos entre raças, já que Deus criou brancos, negros, malaios, amarelos e vermelhos, e colocou-os em continentes separados, conforme a ordem da criação.

Meu raciocínio encontra ainda mais pérolas. Enquanto a Alemanha nazista avançava sobre tudo, em especial sobre os judeus e os classificados como sub-raça, o que a igreja estava fazendo?

Membros das igrejas européias anunciavam que a vontade divina expressa na lei era demonstrada por ordenanças claras e invioláveis que governam a vida das nações. Ou seja, para ser cristão genuíno era necessário ser patriota, e todo bom patriota não se posiciona contra as decisões de seu governo. Se assim Deus estava permitindo através dos governantes, quem seria eu para ir contra? – pensava a igreja.

Desta forma, todos os campos de concentração e todas as bombas foram aceitos, já que tudo era ocorrido por permissão divina. A igreja além de não se manifestar, engoliu em doses cavalares a crueldade com justificativas banais.

Nesta verificação pelas as atas da história, encontramos atitudes contra as mulheres, negros, judeus, ciganos e ademais. Mas, numa análise da contemporaneidade, percebo que o alvo são os homossexuais – pensamento que originou todo o escrito deste texto.

Não há espaço algum para os homossexuais nas igrejas. É aceito e bem recebido nos salões das igrejas, desde que bem arrumado e com dízimo saliente, o mentiroso, o lascivo, o estelionatário, o divorciado, o adúltero, o mesquinho, o fofoqueiro, o violento e o invejoso. Mas, não há lugar algum para o homossexual. Nesta terra tenho visto pouquíssima gente disposta a ouvi-los, a abraçá-los, a desejar dividir o pão com eles. Para ser mais exato, só encontrei duas pessoas até hoje com tal disposição cristã.

Enfim, todo este meu esforço de escrever sobre esta guerra existente entre a misericórdia e o legalismo cingido pela ordem da criação, leva-me as seguintes conclusões:

[1] - A igreja em maioria de efetivo e tempo esforçou-se em utilizar as escrituras como meio de justificativa de seus pensamentos, impulsos, procedimentos e conquistas econômicas.

[2] - A igreja tornou-se categoricamente uma instituição repleta de regras de conduta, cada item tendo sua severa punição, e desta forma, tudo quanto é “não conforme” não é passivo de receber graça e está muito longe de alcançar o reino dos céus.

[3] - A igreja não demonstrou seguir o ministério simples e libertador de Jesus Cristo, aquele que afirmou vir para salvar os pecadores, que o reino dos céus pertencia as criancinhas, e que agiu como salvador de mendigos, gays, adúlteros e puxadores de fumo de seu tempo.

Concluo que, eu como seguidor de Cristo e membro de uma comunidade protestante, devo pedir perdão a todos os que um dia foram marginalizados pela formalidade da igreja cristã.

Declaro aqui meu pedido de perdão às mulheres que foram proibidas de proclamar a palavra de Deus; meu pedido de perdão aos negros que foram utilizados como mão-de-obra escrava, proibidos de serem simplesmente humanos; meu pedido de perdão aos povos de outras raças, que foram diminuídos e humilhados por suas aparências e costumes não semelhantes; meu pedido de perdão aos homossexuais que não foram acolhidos e ajudados nas noites de frio e solidão.

A todos vocês que um dia foram considerados não aptos da graça de Deus, meu sincero perdão! "A misericórdia triunfará sobre todo juízo". Tiago 2:13.

Gratidão

Dia 09 de outubro, a última sexta-feira que passou, foi o aniversário da minha primogênita, a minha filha branca de cabelos cacheados. Michelle fez 3 aninhos e a cada dia que passa eu me sinto mais orgulhoso.

Nesta sábado, dia 10, comemoramos com muita alegria não só o aniversário da Michelle, mas como também da Nicolle, minha caçula, que fez anos no dia 26 de setembro. Nicolle é a minha filha preta, com cabelinho cheio de caracóis. Ela fez um aninho de vida.

Agradeço a Deus a oportunidade de ser pai. Agradeço de todo o coração a Jesus Cristo pela graça de ser pai de duas meninas lindas, que nasceram uma seguidinha da outra, permitindo e exigindo um amadurecimento muito grande da minha alma.

Somente a Deus seja a glória!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Minhas Pretenções

Nunca fui um aluno exemplar. Tirei sempre notas medianas, não ganhei qualquer concurso de redação ou matemática, e minha reputação era sempre de um aluno distraído demais. Na época do ginásio, quando estava me tornando um adolescente, troquei esta distração pela algazarra e fui suspenso algumas vezes.

Entre os 12 e 18 anos, apaixonei-me quase um milhão de vezes levando fora em mais de 90%. Nesta mesma época, adquiri mais peso do que devia, troquei o basquete pelo violão, e viciei-me em fast food. Como resultado, descartei qualquer possibilidade de ser um referencial de boa aparência – se isso foi possível um dia.

Sempre ouvi dizer que músico no Brasil morre de fome e que músico curitibano morre ao nascer. A partir dos 18 anos, este era o meu paredão de fuzilamento, pois não tinha nada neste planeta que idealizasse como paixão ocupacional que não fosse música.

Para piorar, nunca fui um músico talentoso ao ponto de angariar qualquer reconhecimento ou colocação profissional. Não tinha bons equipamentos, não lia partituras, não tinha competências operacionais para atuar um estúdio, não tinha bons contatos e não recebia boas indicações. Ainda que eu fosse habilidoso e tivesse um “ouvido bom”, o máximo que consegui foi tocar numa bandinha de garagem bem divertida.

Hoje, minha situação não é muito diferente. Sou obeso (meu peso tem sempre três dígitos), deixo a mostra o couro cabeludo no cocuruto pela calvície, minhas notas estão sempre na linha média.

Este blog possui indagações teológicas (estou correndo de qualquer teologia, muito menos de propor alguma), e desta forma pode levantar alguns questionamentos dos leitores. O que posso dizer é que não tenho a pretensão de tornar-me um rival dos inteligentíssimos mestres da teologia fundamentalista. Eu sempre levo homéricas lavadas quando eles rechaçam quaisquer dos meus argumentos. Eu sou inapto para fundar qualquer escola de pensamento ou movimento religioso – não tenho cacife para tal coisa (entenda-se prazer).

Por ser um tagarela e bem-humorado, sempre expus abertamente os meus insights. Também nunca me acomodei com o que sabia e nunca me associei com mediocridade. Fiz inimigos, gerei constrangimentos e acabei antipatizado por muita gente por expor uma opinião forte e truculenta, parecendo um elefante trombeteando.

Sei que também fiz adeptos e inspirei algumas pessoas. Peço àqueles que me odeiam misericórdia, pois não sou tão desequilibrado e perverso quanto dei a entender. Aos admiradores, imploro que não me sigam e não me idealizem: escondo uma tonelada de defeitos debaixo da pele.

Você deve estar se perguntando: se sou tão estabanado e vivo dando braçadas na rotina, qual é a minha pretensão afinal? Qual é a minha luta e busca?

Vou passar por esta vida apenas uma vez e, mesmo atabalhoado, quero contribuir de alguma forma para um mundo melhor. Tão somente quero oferecer-me como amigo e dar o ombro aos cansados, dividir o pão e o teto com pobres e aflitos. Quero uma vida sem estardalhaços, sem messianismos e sem falsidade.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Impunidade

Estou mal.

Neste final de semana que passou, assisti a uma palestra que alertava os pais e os jovens sobre a maldição da pedofilia. Slides coloridos revelaram os números das crianças mortas, maltratadas e marcadas para sempre. Foram números que me trouxeram à náusea, pois uma maioria esmagadora trata-se de casos com o consentimento e omissão de pais e mães.

Dados estimados pelo FBI e pela Interpol enunciaram que a pornografia infantil movimentou cerca de 5 bilhões de dólares em 2005, e já é estimado mais de 10 bilhões para este ano. Há um numerador ainda pior: existe apenas UMA AUTORIDADE MILITAR atuante no Brasil na luta contra a pedofilia. Tal pessoa foi a palestrante.

Fiquei ainda sabendo informações ainda mais desgraçadas. Não existe nas leis brasileiras uma punição específica ao crime de pedofilia, para ser ainda mais enfático, pedofilia não é considerado crime – não está diretamente tipificado. Os autores de violência sexual contra crianças não são punidos por tal ato, já que não existe um tipo penal específico para o assunto.

Outra lacuna maldita da lei é que a posse de material pornográfico infantil também não é crime tipificado, ou seja, pessoas que forem flagradas armazenando conteúdo com imagens infantis não podem ser presas.

Quer desgraça maior que isso? Pois bem...

A não tipificação penal tem facilitado a impunidade. Conforme a expertise da palestrante, o pedófilo, normalmente, não tem antecedentes criminais, possui residência e trabalho fixos. Desta forma, ele pega a pena mínima, comporta-se bem e sai com um terço da pena cumprida. A partir daí, leva um tempo de apenas 48 horas para ele agir novamente, conforme as estatísticas apuradas, afirmou o palestrante.

A dificuldade em punir o pedófilo está no fato de que o delito cometido não admite punição para tentativa. Os pedófilos deixam de ser punidos por [pasmem!] falta de conclusão do delito.

No Brasil, para punir o pedófilo é necessário se valer de outros crimes já tipificados pelo Código Penal, como estupro, atentado violento ao pudor, presunção de violência, lesão corporal, corrupção de menores e, quando for o caso, homicídio.

Impunidade: há desgraça maior do que esta? Haveria na terra motivo maior para perder o sono? Tudo isto me deixou muito mal.
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Calado e Sumido

Amigos e parentes já me perguntaram por que eu ando tão calado e sumido. Muito já ouvi nestes seis últimos meses que eu já não sou como era. Embora a conotação seja em tom de tristeza por parte de alguns, nenhuma interjeição me deixou intrigado ou abatido. Eu realmente fico agradecido por tais comentários.

Quanto ao calado, que ouvi umas cinqüenta vezes, eu digo que não é verdade. Ainda continuo falante, exagerado, precipitado e eloqüente como nunca. Sou comunicativo e o calcanhar de Aquiles desta qualidade é minha impulsividade para falar. Digo aos amigos que sentem falta do quanto eu falava (se isso realmente diminuiu) que é bem melhor calar do que replicar por tudo.

Quero dizer aos que afirmam que eu ando caladão e mal-humorado, que eu carrego uma quietude bem resolvida. Vez por outra, prefiro manter-me taciturno, escolhendo sombras ao invés dos holofotes, o ostracismo ao bate-papo, o pensamento à fala. Tudo isso porque estou reavaliando meu dia-a-dia, minha fé, minha história. Ando desapontado com a História. Estou inconformado, relutante em aceitar o que anda acontecendo, quero mudá-la. Mas, isso eu tratarei em um texto mais oportuno.

Mas, em relação ao sumido a coisa é bem diferente. Há algo que se deve questionar sobre este tema: sumido em relação a quê? A resposta eu entrego de bandeja agora mesmo.

Se eu estou sumido dos encontros e das visitas é porque a faculdade e as crianças tomam meu tempo e com todo o direito do mundo. Deixei para estudar tarde (mas, não tarde demais) e com isso tenho uma sobreposição de horários na agenda: família, trabalho e estudo. E as meninas não precisam ter horário previamente agendado: a elas esforço-me sobremaneira para estar sempre disponível para o momento. Não há nada melhor do que estar sempre disponível – tanto para mim como para elas.

Para o parágrafo acima, concluo que estou sumido por uma simples questão de prioridades, que em breve se encaixarão em outros padrões, os quais eu espero menos consumo do tempo, sobrando assim, condições favoráveis para estar disponível também aos demais amigos. Assim espero.

Porém, se a sua indagação foi com relação a “sumido da igreja”, antecipo que não há nada com o que se preocupar. Não estou afastado porque não deixei de ser igreja. Se não nos vemos, é porque há algo errado com nosso cristianismo, já que se trata de uma fé relacional, de compartilhamento e de comunidade. O cristianismo nos impulsiona a ser tudo de todos e todos como um só. Se não nos vemos porque eu não apareço na igreja, há algo de errado conosco. Que tal consertarmos juntos isso?

E por último, se seu questionamento é “sumido do blog”, aceite minhas sinceras apologias. Não há desculpa para tal, e reconheço que mereço açoites e mais açoites vindo de leitores impenitentes como vocês.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pobre de Mim

Sou como um homem faminto que procura uvas nas parreiras e figos nas figueiras e não encontra nada, pois todos os frutos maduros já foram colhidos.

No país inteiro não há uma só pessoa honesta, ninguém que obedeça a Deus. Todos estão procurando matar os outros, e cada um procura colocar seu parente na cadeia. Todos estão prontos para fazer o mal: autoridades exigem propina e juízes cobram presentes para torcer a justiça.

Gente poderosa confere como vai fazer para satisfazer seus desejos malignos, muita gente planeja fazer maldade. As pessoas mais honestas não passam de espinheiros. Creio que um dia Deus irá exercer sua justiça, como os profetas já anunciaram antes.

Não acreditem nos vizinhos e amigos, e tenham até mesmo cuidado ao que se diz a sua mulher. Pois hoje em dia os filhos desprezam os pais, as filhas desobedecem a suas mães, as noras brigam com as sogras, sendo que os piores inimigos são sempre parentes.

Eu, porém, ponho minha esperança em Deus, confiando firmemente que ele me salvará. O meu Deus me atenderá!

Miquéias 7 : 1 – 7

sábado, 3 de outubro de 2009

Não Sou Merecedor

Acabo de ler sobre um ex-militar que foi perseguido na época da ditadura. Seus ideais eram de justiça e igualdade, e desta forma, ele não se enquadrou ao sistema e acabou perdendo sua liberdade.

Na ditadura sofreu também o Frei Beto. Numa jogada gatuna, tentaram transformar ele num prisioneiro comum ao invés de político, para humilha-lo ainda mais. Em protesto, Beto deixou de comer, chegando a aproximar-se da morte em alguns dias. Sua família retrucou dizendo para ele não jogar fora a vida, dom precioso dado por Deus. Ele replicou dizendo que o dom mais precioso era a sua dignidade.


Ando pensando nisso dias e dias, cambaleando feito um cego em ruas abarrotadas. Percebo que não sou digno da benção citada por Jesus: bem-aventurados aqueles que são perseguidos por causa da justiça. Indo mais longe, ainda não sou merecedor da bem-aventurança de ser considerado alguém com sede e fome de justiça.

Não posso apropriar-me do sermão da montanha. As cenas de violência e notícias da sub-condição humana apenas me deixam triste. Os relatos sobre crianças violentadas e mortas, bem como a rede maldita da pedofilia apenas me revolta. Gente sendo comercializada como escravo no Brasil ou idosos padecendo nos corredores de hospitais apenas me sensibilizam. Mas, ainda não fui à luta, não dei a cara pra bater, não manifestei a toda gente minha sede e fome de justiça.

Não fui a passeatas, nem manifestações. Não permaneci um incômodo ao sistema, pelo contrário, acomodei-me. Errei ao não dar ouvido a um missionário que afirmou que nenhum sistema religioso suporta a pressão do capital. Meus amigos são capitalistas, mesquinhos feitos sanguessugas. São todos gente boa, amados e queridos, mas ninguém tem feito coisa alguma contra o sistema. E eu tenho sido pior deles.

Minha geração refestelou-se em dívidas e em sonhos de consumo. Fizeram templos bonitos e ao mesmo deixaram crianças morrerem de fome. Abandonaram comunhão por trabalho e dinheiro, deixaram o companheirismo por empresas e carros importados. Criaram igrejas que mais parecem caixinhas de promessas. Que geração leviana!

Ainda não me vejo merecedor que qualquer galardão dos mártires. Sou como Marcelo Camelo, que ao receber o prêmio de melhor composição afirmou: “como posso receber este prêmio numa categoria onde também está Chico Buarque?”. Não posso dizer que sou bem-aventurado se os profetas cuidaram dos pobres e das viúvas enquanto eu preguei um evangelho chinfrim temperado com coisas nada humanizadas.

Por anos eu disse que a salvação de Jesus mitigava o sofrimento deste mundo – ledo engano! Desencarnei-me, fiz-me um completo carola em tempos enfadonhos onde meus vizinhos passavam fome e frio. Desumanizei-me ao afirmar que as pessoas padeciam por não se comprometerem com Cristo. Só fui perceber que estava errado quando eu mesmo passei a sofrer dia após dia, sendo eu um completo pelego e consumidor da igreja.

Nunca fui perseguido por causa da justiça. Não possuo tal bem-aventurança.

Tiago 1:27 – Para Deus Pai, a religião pura e verdadeira é ajudar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e não se corromper com as coisas deste mundo.