sexta-feira, 31 de julho de 2009

Breve Retorno

O intenso frio desta semana em parceria com um resfriado me mantém afastado deste blog. Pretendo retornar em breve com a programação normal, prevista no ante-projeto deste.
Ao ficar de molho, borbulhantes idéias de textos vem ganhando força.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Nem Todas as Flores

Não sou compositor. Escrevi pouquíssimas canções, sendo as que considero realmente boas podem ser contadas nos dedos da mão. Uma delas foi escrita para um amigo, tendo um perfil de conselho, um oferecimento de suporte. Foi uma simples idéia que surgiu ao anoitecer e que virou música cinco minutos depois. Não sou compositor, mas só por enquanto.



NEM TODAS AS FLORES
(Bony Chiarelli - 2008)

De cabelo comprido e um jeito simples de ser
Entre o som e o ruído, rock e MPB
Quase sempre há um conflito para enfrentar
Para enfrentar

Pela linha do tempo, pela voz da razão
Sempre com seu sorriso, sempre com sua canção
Não te faltam amigos para amar
Para amar

Ainda que as cores atraiam você
Por mais que as dores lhe ensinem a viver
Essa fumaça escura não é pra você
Pois nem todas as flores ajudam a crescer
Direcione o olhar pra outro lugar

É a mesma ferida que desgasta você
E a mesma injustiça que aprisiona seu ser
Mas, há sempre uma luz perto do coração
Que morreu numa cruz te trazendo perdão
Direcione o olhar pra este lugar

Pelo ombro amigo, perto do coração
Ver um novo sorriso por uma nova canção
Tendo muitos amigos para amar
Para amar





Hermann, direcione o olhar para a cruz, meu amigo.

sábado, 25 de julho de 2009

Terminal

Existe realmente algo de estranho em nós.

Merhan Karimi Nasseri é mais um indivíduo com história peculiar. Ele é iraniano, mas por ter seu passaporte roubado, tornou-se “nacionalidade incerta”. Ficou confinado mais de onze anos no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Sem qualquer documento de identificação, ele não podia entrar em nenhum país, nem mesmo na França, e ficou condenado a viver numa espécie de limbo.

Sua odisséia começou em 1988, quando se apresentou ao balcão da British Airways, em Paris, munido apenas de uma passagem de ida para Londres. Explicou que seus documentos haviam sido roubados numa estação de trem da capital francesa. Contrariando todas as regras, chegou a embarcar no vôo, mas os ingleses o despacharam de volta no primeiro vôo. Como também não podia entrar na França, Nasseri sentou-se num banco e ficou à espera de que resolvessem seu problema.

Nasseri participou dos movimentos ingleses a favor da retirada do poder do xá iraniano Mohammed Reza Pahlavi na década de 70, mas foi perseguido e torturado no Irã. Após conseguir escapar do país, fugiu para a Europa, mas ao fazer escala em Paris, teve seus documentos roubados e teve de ficar retido na área de espera do aeroporto.

E, como um lorde inglês, apresentava-se sempre impecável. Dormia sentado num banco, tomava banho nos banheiros públicos, lavava suas roupas na lavanderia do aeroporto, ouvia música em seu walkman e lia as publicações inglesas deixadas ali pelos passageiros. De vez em quando, dava uma volta no setor de embarque, localizado no piso superior por ordens do médico, que diagnosticou um problema em seus tornozelos devido à falta de mobilidade.

Em 1999, foi concedio a Nasseri um passaporte de refugiado político, que permite viajar para onde quiser na Europa. Aí aconteceu o que ninguém esperava: Nasseri simplesmente não quis sair do aeroporto, afirmando não ter para onde ir. E para complicar ainda mais, após 11 anos morando no terminal, Nasseri perdeu um pouco a noção da realidade, não reconhecendo seu local de nascimento e até mesmo seu nome verdadeiro, recusando-se assim a assinar os documentos para seu asilo político.

Agora alguém, por favor, me responda: por que somos nós tão estranhos? Só entregaram um passaporte ao iraniano após muito tempo, quando Nasseri já não tinha mais para onde ir. Foram necessários mais de 11 anos para que uma graça fosse feita?

Quando ele negou-se a sair do aeroporto, não tomei esta postura como estranha. Como deveria ser a reação de alguém que esperou durante onze anos por algo e, de repente, em poucos minutos, assinando uns papéis, teria que simplesmente ir adiante?

Em 2004, Merhan Karimi Nasseri recebeu da companhia de Spielberg cerca de 300.000 dólares por direitos de sua história, que foi romanceada no filme Terminal, com o ator Tom Hanks.

Existe realmente algo de estranho em nós.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Flor de Farinha

Eu tinha mais ou menos 15 anos quando comecei a tocar numa banda. Seguindo o padrão de todas as bandas de garagem, a nossa era também formada por amigos, que não tinham o equipamento completo, com instrumentos muito ruins, e que na esmagadora maioria das vezes implorávamos para tocar poder tocar seja onde for.

Nossa atmosfera era o que havia de música na igreja batista do Cajuru. Em outras palavras, se havia ali espaço para ensaiar, nós o utilizávamos. Se havia ali amplificadores e sistema de som, nós o utilizávamos. Se havia ali bateria e contrabaixo, nós os utilizávamos. Éramos totalmente dependentes daquela igreja.

Em contrapartida, a igreja também dependia de nós. Não existiam músicos na comunidade com a fome que tínhamos para tocar e por isso tudo quanto é culto, retiro, programação especial, cantatas, velórios e semelhantes, éramos nós os responsáveis pela música. Ligávamos os aparelhos de som, arrumávamos os instrumentos em seu devido lugar, improvisava extensões elétricas, refazíamos as soldas dos cabos com mau contato, ajustávamos os volumes e para nossa alegria, tocávamos as músicas.

Quando conquistamos certo nível de confiança dos que nos ouviam, nossa agenda passou a alocar também compromissos e não apenas contatos telefônicos. Alguns convites foram surgindo e com isso nosso repertório ganhou uma roupagem própria, independente dos padrões de execução no ambiente da nossa igreja. Ainda assim, dependíamos e muito do patrimônio do Cajuru e inúmeras vezes “pegamos emprestado” microfones, cabos, contrabaixo, pedestais e demais itens necessários para nossas apresentações.

Tenho guardado em meu coração as festas promovidas pelo Lar Batista Esperança, os cultos da Jubacap, a galera da igreja Presbiteriana da Avenida Silva Jardim, o grupo de jovem da igreja Batista Betel, os inúmeros convites feitos pela Jaque da igreja do Evangelho Quadrangular, a congregação Batista de Rio Verde... pessoas e lugares que proporcionaram uma ou mais apresentações de nosso grupo, sempre com uma calorosa recepção.

Uma situação peculiar que me recordo, e que me faz refletir um pouco sobre a vida, foi o convite feito pela igreja Batista do Bom Retiro. Foi um evento muito especial e divertido. Como toda a vez que tínhamos uma apresentação a fazer, era necessário “emprestar” os equipamentos da igreja conforme nossa gestão logística, digamos assim. E nesse mesmo item, também se fazia necessário arranjar um meio de transporte para banda.

Normalmente, nosso “covert artístico” era a carona (ida e volta) acertada informalmente com o responsável pelo convite. Todos os integrantes tinham menos de 20 anos, sem renda suficiente para ter um veículo, e por isso mendigar uma carona era a coisa mais natural e costumeira que fazíamos.

Como esta apresentação foi formalizada por uma pessoa externa a banda, não foi acertada carona, nos fazendo juntar migalhas para utilizarmos um táxi. O dinheiro só foi suficiente para chegarmos ao local da apresentação e este fato nos fez retornar a pé, com os instrumentos embaixo dos braços, para casa. A coisa mais interessante é que fomos reconhecidos no meio do caminho, exatamente na praça Carlos Gomes... Olha só! É a banda Exxodus!

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Acho que há uns 6 anos atrás, fiz um estudo bíblico sobre as circunstâncias das ofertas que eram apresentadas a Deus, e percebi uma conexão com ao episódio vivido naquele dia da apresentação no Bom Retiro.

Para perdão dos pecados, a oferta que devia ser apresentada ao Senhor por um líder devia ser um bode e por uma pessoa comum devia ser uma cabra ou uma ovelha. Se a pessoa fosse pobre poderiam ser ofertados rolinhas ou pombos, mas se a pessoa fosse muito pobre, a oferta poderia ser FLOR DE FARINHA.

Nos tempos antigos, o trigo não era processado em moinhos, mas socado em um pilão, o que resultava em uma mistura com muito farelo. A flor de farinha era a denominação dada ao trigo passado em peneira muito fina, resultando numa farinha semelhante a que usamos hoje. Dar a flor de farinha como sacrifício no templo indicava que uma pessoa de pouquíssimas posses estava dando o melhor para Deus.

Éramos muito pobres, não tínhamos instrumentos bons e muitas vezes nem os tínhamos efetivamente. Não existiam condições básicas para nossa locomoção, estávamos sempre na base de favores, na esperança de boas ações, troca de gentilezas. Quando éramos convidados para tocar, praticamente implorávamos por condições de atender tal oportunidade.

Foi um tempo de muita simplicidade. Apresentávamos a Deus aquilo que tínhamos de melhor em troca do perdão de nossos pecados. Andávamos a pé, emprestávamos dinheiro, pedíamos carona, esperávamos dias melhores. Dedicávamos nossa flor de farinha e assim louvávamos a Deus.

(Levítico 5:11)




terça-feira, 21 de julho de 2009

Parceria

Este ano de 2009 foi o período em que mais meditei sobre minha vida. Eu fiz longas viagens no tempo, rumando aos episódios mais pitorescos de minha jornada existencial e que dessa forma pudesse aprender com cada um. Fazendo um apanhado geral, a música esteve presente na maioria destas minhas reflexões pessoais.

Parte do que sou hoje se desenvolveu através das minhas experiências com a música. Eu nasci ligado em música, por diversas vezes escolhi discos de vinil ao invés de brinquedos, passava horas e horas ouvindo rádio quando nem tinha completado 8 anos. A música era o que me fascinava: imaginava-me gravando em estúdio, fazendo show ao vivo, cantando e tocando com meus amigos. Por mais incrível que pareça sempre me imaginava como contrabaixista...

Enquanto eu era criança, nunca tive ninguém da mesma faixa etária que a minha que comungasse comigo a paixão pela música. Meus amigos normalmente dividiam-se em amantes de futebol ou viciados em vídeo-game. Eu convivia muito entre um grupo e outro, sendo participante diário de cada aventura, mas era no universo da música onde eu realmente me realizava.

Ainda que não tivesse um parceiro de mesma idade, eu não estava isolado no mundo. Meu pai era também um apreciador incurável da música e foi ele quem comprou o meu primeiro aparelho de som: um Polyvox sistema 3 em 1. Era o cinturão de utilidades que faltava ao meu personagem. Foi com a aquisição deste equipamento que comecei a embalar na ladeira do som.

A matemática é simples: se você adquire um carro só lhe falta comprar combustível. Se você tem um aparelho de som 3 em 1, só lhe falta comprar discos de vinil e fitas k-7. E numa tarde de sábado, na loja Palácio Musical da rua Presidente Faria, compramos o primeiro disco de vinil de nosso acervo. Era um disco dos Beatles entitulado “The Collection Oldies But Goldies” – o primeiro disco de vinil que segurei em minhas mãos. Lembro bem o momento em que saímos da loja, pois meu pai foi cantarolando “I Wanna Hold Your Hand”, feliz da vida.

Aqui, neste exato ponto de minha viagem no tempo, é que paro e reflito: se para mim não havia parceiros para dividir a música comigo, muito menos havia para meu pai, que estava comprando seu primeiro disco de vinil com mais de 35 anos de idade. Fico pensando em como era difícil adquirir as coisas naquela época, como era necessário que as pessoas labutassem bastante para juntar dinheiro e ampliar seus horizontes passo a passo.

Não creio que hoje as pessoas trabalhem menos ou que o dinheiro seja mais fácil de ajuntar atualmente. Porém, creio que aquele era o tempo em que comprar carro não nos trazia a oportunidade de comprar um “0 km” como se faz hoje. Era o tempo em que a velocidade da tecnologia e da informação não nos importunava tanto. Era o tempo em que comprávamos um disco de vinil a cada 6 meses e não nos importávamos com isso.

Hoje, a dificuldade de aquisição de um aparelho de som ou um disco de rock é substancialmente menor da que enfrentei em 1987. Hoje um garoto qualquer com menos de 12 anos pode conectar-se a internet por seu celular, compartilhar todos os disco dos Beatles com um colega de uma comunidade do Orkut, tudo isso sem qualquer custo.

Muita coisa evoluiu. Aos meus olhos, a oportunidade de acesso aos registros fonográficos é maior da que havia antes, porém, a dificuldade de encontrar uma parceria ainda é a mesma de antigamente. Essa é a minha análise: eu não evoluí. Parte do que sou hoje se desenvolveu através das minhas experiências com a música.