quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Patife

Hoje ficou claro pra mim que sou um patife, uma farsa, um safado. Considero-me assim e com certeza alguns de vocês dirão que já estava na hora de eu me reconhecer.

Sou um camarada raso – sem profundidade alguma. Muito marketing e pouco conteúdo. Se comparado com as pessoas que me cercam, não possuo quaisquer sinais de maturidade ou equilíbrio emocional.

Muito disso pode ser percebido na forma como trato as pessoas. Passei muito tempo dizendo que nada me é mais importante do que as pessoas em detrimento do mundo material, mas nunca consegui deixar prova concreta deste meu perfil. Jesus, o Filho do Homem, anunciou que até os pecadores tratam bem os seus amigos – nem isso eu consigo fazer. Eu trato mal aqueles que me amam.

Nunca consegui retribuir na mesma medida o carinho que recebi de pessoas como o Jackson, o Edu ou o Hermann. Nunca sequer retribui a admiração dispensada em meu favor como a que o Jorginho ou o Maico tem constantemente por mim. Isso sem mencionar tudo o que recebi da Renata ou da minha mãe e que, como safado que sou, nunca soube agradecer.

Sou um patife. Um camarada como eu suga toda a atenção que meus amigos e amores me dão, e só dou aquele carinho básico de retorno para manter minha imagem de bom moço, de menino bonzinho, de um sujeito agradável. Sou uma farsa.

Recordo-me neste instante que disse inúmeras vezes que “não há amor maior que dar a vida por seus amigos”, tentando ser um imitador de Cristo. Mas, sempre foi da boca pra fora, pois na essência das minhas atitudes, sempre foi no sentido de ser um amigão, aquele que dá suporte. Em outras palavras, eu sempre me coloquei numa posição privilegiada de conselheiro ou de quem cita as palavras de Jesus com certa destreza, ao invés de me colocar no lugar das pessoas.

Eu posso abraçar e beijar as pessoas, posso oferecer carona e carinho, posso emprestar dinheiro ou fazer juras de amor eterno, mas não tenho envergadura moral para me identificar com elas.

Passei a conviver naturalmente com as mentiras que contam a meu respeito, afinal eu sou uma fraude. Estou me referindo ao fato de pessoas afirmarem coisas boas ao meu respeito como meu amor ou minha gentileza. Porém, eu não amo ninguém como devo e não sou nenhum pouco gentil. Sou uma verdadeira tentativa de ser algo bom – mas, uma excelente farsa, um perfeito canalha.

Quando dou algum presente, tal atitude carrega na alma a idealização de receber mais fama ou atenção. Sou uma sanguessuga. E pra ser honesto, raramente dou presentes. Fico dizendo que não sou apegado a coisas materiais para fugir da realidade de minha negligência. Esqueço que o desapego é espiritualmente medido pelo quanto se dá, e não pelo pouco que se tem.

Para aumentar ainda a ferida causada pela minha canalhice, recebo tratamento maravilhoso das pessoas. Levo a vida de um rei. Sou elogiado, sou amado, sou querido, sou paparicado, sou bem quisto. Até hoje, ninguém me tratou como realmente mereço – eu sou uma farsa, um canalha, um patife, um ingrato.

O mal que não quero, esse sim, eu faço. Enquanto o bem que todos fazem e que afirmo a todos os pulmões ser a coisa certa a fazer, não faço coisa alguma para realmente faze-lo.


sábado, 7 de novembro de 2009

Solidão

Às vezes eu sinto uma dor no peito, uma angústia inexplicável. O choro é manifesto quase que em seqüência e muitas vezes me encolho no sofá, apertando os dedos das mãos junto ao coração. Nem sei por que isso acontece. Simplesmente vem essa tristeza e quando percebo, estou envolvido numa solidão sem tamanho.

Eu gosto de ficar sozinho. Sou esquisitão. Nestes instantes de abandono, seleciono uma música saudosista, e passo a refletir na melodia e na poesia da canção. Os olhos se enchem de lágrimas ao som dos quatro rapazes de Liverpool. Fico imaginando um mundo de sonhos, onde sou um homem realizado, satisfeito com o que produzi e percebendo que muitos dos que eu dediquei carinho e atenção, sabem retribuir.

Tem dias que não me sinto empolgado com nada, não me sinto confiante em nada, e minha estima chega a aproximar-se do zero. Passo a detestar meu corpo, judiado pela obesidade e pelo sedentarismo. Arrumar-se é quase que uma tortura de campo de concentração: calças e camisas roubam-me a força do sorriso. Nada me serve confortavelmente.

Não sou idiota. Ser magro ou possuir um corpo atlético não me livraria de nenhum dos meus momentos de tristeza, porque nem sei de onde eles vêm. Entendo perfeitamente que minha vida não possui blindagem alguma, e que toda a pancada que vier na minha direção me acertará em cheio se eu não me desviar.

Sinto o gosto do fel do abandono, feito o companheiro que percebe o amigo desviando o passo para não cumprimenta-lo publicamente. Eu tento não passar por momentos assim, mas continuo muito tosco; fico magoado por pouca coisa, abro espaço pro silêncio, e a introspecção aparece feito velha amiga.

Assim vou levando minha vida: tropeçando nos cadarços, cambaleando feito cego em tiroteio, tateando a porta para encontrar o buraco da fechadura. Confesso que tenho medo do abandono, mas percebo que a solidão me cai bem.