quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nada de Escândalo

Acho que depois que meu caráter e minha fé amadureceram, pouquíssimas coisas (talvez nenhuma) conseguiram causar em mim qualquer tipo de escândalo. Não me espanto mais quando alguém anuncia seu divórcio, quando a filha de outrem engravida antes do casamento ou quando um velho conhecido abandona a igreja.

Numa linha de raciocínio mais clara, afirmo que o pecado não move mais em mim qualquer sentimento relacionado com o escândalo. Em primeira mão, não me espanto mais com o tropeço de alguém (qualquer que seja) evitando assim, não sentir comichão na língua para contar a outra pessoa. Segundo, porque encaro pecado como natureza de apenas um padrão de classificação, ou seja, contar uma mentirinha ou cometer adultério é a mesma coisa – ainda que tenham conseqüências bem distintas. Obviamente, não me concentro no que pode acontecer, bastando a cada dia o seu mal.

Nesta segunda via de pensamento, fica o meu descontentamento e protesto contra as medidas disciplinares que a liderança eclesiástica vem imprimindo. Digo isso porque é sempre exposto ao ridículo e aos açoites aquele pecador que engravidou a namorada, porém o mentiroso e sonegador de impostos recebem, quando muito, o esforço da fofoca e do puxão de orelha. Assim, a única forma que encontro para reagir contra esse grande vacilo dos líderes, é não dando a mínima ao erro que qualquer um pode cometer.

Não acredito muito na história de “fiquei escandalizado”. Quando ouço essa frase, normalmente percebo que é mais um “não gostei disso” ou “não concordo” do qualquer outra coisa. É uma grande cilada, mas apenas para quem esparrama por aí seu pseudo-escândalo.

Já estive numa roda onde o baseado estava aceso, dei carona pra quem não conseguia andar devido ao consumo de álcool, joguei truco em mesa de boteco, participei de churrascos em companhia de ateus e drogados, emprestei dinheiro para vagabundos e lascivos, dancei a noite inteira na festa de aniversário de um amigo que estava lotada de gays, travestis e lésbicas. Não me tornei impuro, não fui influenciado e não cometi nada que desabonasse minha conduta, ainda que esta não seja exemplar. Ao contrário, amei e fui amado por “este tipo gente”, enquanto me mantinha um carola.

Fico estarrecido quando ouço sobre a desnutrição dos pequeninos no sertão, perco o sono quando fico sabendo que um conhecido está com uma doença terminal, choro de raiva com os relatos estatísticos da guerra do Iraque, desespero-me com as notícias da violência doméstica, embrulha-me o estômago saber das trapaças no congresso. Mas, de uns tempos pra cá, nada mais me acontece quando sei de um vacilo espiritual de alguém.

Decidi não dar mais ibope ao pecado. Decidi não ser platéia curiosa do acusador. Decidi não ser o catalisador do peso da consciência de ninguém. Esforço-me apenas para abraçar aquele que reconhece seu erro, que pede socorro, que necessita de ajuda. Que seja eu, um ponto de apoio e intercessão em favor dos pecadores. Já fui acudido por eles um dia.

Que atirem a primeira pedra – estou pronto para cuidar da ferida, seja minha ou de outro alguém.

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