terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Deus que Creio

Deus está muito acima das idéias e imagens que possamos ter sobre ele.

Eu acredito em Deus. Porém, não acredito que o futuro é imutável, que tudo o que aconteceu e acontecerá estão devidamente cadastrados num banco de dados divinos. Creio que nosso livre arbítrio em associação com a intervenção divina pode construir um futuro diferente.

Eu acredito em Deus, mas não acredito que ele opera milagres de forma seletiva, entregando dádivas apenas a quem ora ou quem cumpre mandamentos bíblicos. Se assim fosse, Deus estaria fazendo acepção de pessoas, pois abençoaria uns e amaldiçoaria outros. Se assim fosse, Deus seria o responsável pelo sossego da vida de políticos corruptos e empresários gananciosos, possuidores de contas bancárias rechonchudas. Se assim fosse, Deus estaria negligenciando cuidado aos pequeninos que sofrem abusos nas mãos de homens violentos e as crianças que padecem de fome e sede nas regiões mais pobres do planeta. Se assim fosse, Deus seria alguém muito estranho: atenderia uns e não atenderia outros. Qual seria o critério divino?

Eu acredito em Deus, mas deixei de acreditar que a devoção a ele nos traz uma vida isenta de intempéries. Não consigo engolir que a igreja tenha a função de tornar os dias mais leves através do acesso ao sobrenatural. Não suporto mais aquela a fé de cunho preventivo, aquelas orações feitas para evitar percalços e aquele tipo de gente que afirma que os salvos recebem livramento das adversidades. Não creio num Deus parcial, que se move apenas ao ouvir orações vindas de crentes.

Não acredito que Deus está no controle de tudo, ainda que tenha pleno poder para assim proceder. Não posso acreditar que a vida roubada daquela criança atirada pela janela teve uma permissão divina. Se assim fosse, Deus seria responsável pela falta de bom senso dos pais que decidiram jogá-la de lá. Para mim, Deus não permite furacões e enchentes que matam milhares, balas perdidas que deixam inválidos, crises econômicas que implicam na fome de milhões de famílias. É nossa a responsabilidade pelo trânsito violento, pela política corrupta, pelas doenças sexualmente transmissíveis, pelas síndromes, crises e epidemias. Nós somos os culpados.

Visualizo o meu dia de forma bem tímida, minuto após minuto. Preparo-me para o futuro de maneira simples, exigindo competir sem qualquer privilégio por ser “filho do rei”, aperfeiçoando-me com a medida que posso alcançar. Creio que a benção cai do céu para justos e injustos, e é por isso que não peço a Deus aquilo que ele já está imbuído de me oferecer diariamente.

Acredito num Deus poderoso, que me ama de maneira incondicional assim como ao budista, ao espírita, ao católico, ao hare krishna e aos demais de todos os matizes. Não me coloco em posição de destaque espiritual, nem ao menos me considero mais próximo da graça do que qualquer outro, cristão ou não-cristão.

Deus está muito acima das idéias e imagens que possamos ter sobre ele.
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