domingo, 9 de agosto de 2009

Primeiro Passo

Há poucos meses participei de um treinamento de líderes num ambiente muito agradável. Estava cercado de gente conhecida, de uma atmosfera que muito me faz feliz, em companhia de meu grande amigo Edu. As palestras eram ministradas por gente do mais alto gabarito, líderes que além de terem autoridade sobre seu tema, tinham o poder de conquistar as pessoas: eram ilustres carismáticos.

Um destes palestrantes, o qual eu já tinha ouvido mais de mil vezes anteriormente, puxou o meu tapete com uma frase. Sua sentença quebrou o meu pilar de apoio e fez-me repensar sobre minha vida. Ele conseguiu algo muito mais profundo do que conquistar minha admiração. Sua opinião mudou minha ótica sobre algumas coisas.

Antes de contar a você o que aconteceu ou o que ouvi nesta palestra, vou relatar mais ou menos como eu norteava minha vida. Eu simplesmente não conseguia contrariar pessoas queridas em alguns assuntos ou situações. E não tinha coragem de cobrar nada, nem mesmo colocar em xeque-mate alguns itens que eu tinha com pessoas que eram por mim estimadas. Raramente eu desaprovava algumas situações justamente porque não queria que partisse de mim a responsabilidade de uma possível mágoa de um amigo querido.

Eu preservava o verniz da amizade e do carinho entre eu e as pessoas que amava, mas por dentro eu me acabava de tamanha não conformidade. Eu não sou moralista, legalista ou perfeccionista. O que me consumia era a falta de parceria para com minhas investidas – coisa que já escrevi anteriormente neste blog. Todos os projetos que circulavam minha cabeça e ambição necessitavam de parceiros: uma banda, um evento, um show, uma peça de teatro, uma gravação, uma composição, o Café Cajuru, uma viagem e etc.

O câncer que aumentava no meu coração era a impiedosa solidão das investidas que fazia. Enquanto eu perdia o sono e a fome por causa da ansiedade de um ensaio, alguém furava indo ao cinema ou sob a condição de partir antes do horário de término. Enquanto eu gastava minhas energias para memorizar partituras, endereços e saldos bancários para finalizarmos uma apresentação, alguém esquecia cifras, convenções e o prazer de fazer algo em conjunto. Eu estava só, mas esta era uma condição que eu havia me colocado nela: a culpa era minha.

Voltando para aquele momento do congresso de líderes...

O palestrante estava abordando um tópico tendo como ilustração a história de um casal que idealizava um jantar semanal para ele. Aquela família recebeu algumas negativas para tal convite, pois ele não podia atender tal oferta conforme desejado. A demanda era maior que o espaço livre em sua agenda. Aquela família estava experimentando certa decepção causada por eles mesmos. A frase com que o palestrante encerrou tal ilustração foi “eles precisam aprender a lidar com sua frustração”.

Essa foi a frase que me marcou. Foi a partir dela que descobri que devia abandonar algumas compulsões minhas, como a grande tendência que tinha de agradar as pessoas, sufocando o que eu realmente era. Eu me inseria numa solidão por falta de parceria, por não saber ampliar meus horizontes, por contar sempre com as mesmas pessoas e tendo como consequência disso tudo o mesmo resultado frustrante. Eu havia criado isso em mim e precisava aprender a lidar com isso.

O meu maior erro era inserir as pessoas em locais onde elas não tinham como oferecer o retorno esperado. Eu criava expectativas, mas infelizmente o rendimento final dependia da condição onde eu as havia colocado em minha mente. Como não conseguia expressar o que realmente sentia, evitando assim magoar alguém, a minha frustração tendia ao infinito. Normalmente, eu estava morrendo na véspera de qualquer realização. Eu precisava mudar.

Ouvi uma vez de um amigo “você nunca vai ter um grupo de Bonys na sua investida”, afirmando que as pessoas eram diferentes e que por essa razão o percentual de comprometimento era diferente para cada um. Não acredito nisso. Não penso que o simples fato de sermos diferentes nos libere da real necessidade de comprometimento e evolução. Não creio que pelo delta de nossas histórias esteja a diferença da paixão pelo realizar.

Ainda não me curei do câncer da falta de parceria. A cura disso não implica somente na minha disposição, mas na de todos os envolvidos. Assim como a comunicação depende tanto do emissor como do receptor, assim também é a realização, a qual depende da parceria formada. A concretização de um projeto é como o sexo: só existe num movimento bilateral, no envolvimento das duas partes, numa relação apaixonada entre ambos.

Mas, até agora eu só consegui visualizar meu primeiro passo: preciso aprender a lidar com minhas frustrações. Já estou mais feliz sabendo disso.

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