terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mensagem ao meu Irmão

A vida é um verdadeiro vôo livre paralelo a um paredão de rochas pontiagudas. Os corajosos aproveitam melhor a aventura, pois a encaram como esporte radical. Sentem-se felizes com a adrenalina pela proximidade de chocar-se contra o lajeado. Os conservadores preferem um ritmo lento, ralando os dedos e os joelhos, pois entendem que é melhor descer à montanhista. Poucos são os que se atiram de ponta, abrindo os braços e desatando o nó da garganta.

Já vi gente prometendo uma vida sem problemas. Eram pessoas que afirmavam que Deus agiria em favor dos seus, transformando as dificuldades em céu de brigadeiro. Já não engulo mais a ladainha de que as tristezas e pressões do dia a dia são fruto do pecado e da pouca fé. Minha crença é que a vida esbofeteia a todos sem qualquer distinção. Tudo o que temos e recebemos são resultados de escolhas individuais, tanto nossas quanto de terceiros. É impossível correr da tristeza.

A motivação perde o pique com as ferroadas, a força amolece pelos coices, os sonhos se esvaem com os furacões. Os dias têm sido muito frios e as noites longas demais. Valentes de outrora se tornaram anciãos fatigados. A vida empurra todos ao mar adentro e não adianta nadar contra a maré.

A vida é dura, mas não é isenta de felicidade. Ser feliz é muito mais que livrar-se dos problemas. Alegria é muito mais que dinheiro no bolso, prato cheio, feriado prolongado e festa de aniversário. Os dias são maus, mas não impede a força da bondade – cabe a cada um promovê-la. Cada um por cada um.

Não creio que Deus esteja lá em cima salpicando adversidades para nos testar. Não consigo entender propósito nas durezas de uma pessoa sendo diagnosticada com câncer enquanto ao mesmo tempo tem gente esbanjando sossego, fruto de corrupção. Não aceito a explicação que Deus tem encolhido sua mão para alguns e estendido para outros. Será que ele permite que uma mulher abandone o lar, o marido e os filhos simplesmente para provar a fé da família?

Quando converso com Deus e comento sobre as dores dos dias, desabafando e revelando minha tristeza e indignação, percebo claramente que o plano dele não é o livramento. Deus quer que busquemos as coisas de cima, coisas que vem dos céus. Quer que sejamos nobres ao enfrentar com confiança tudo quanto é tristeza que venha pela frente. Buscar livramento é mediocridade diante de tanta coisa boa que existe por aí.

O coração azeda quando relutamos contra traições, abandonos, chifradas, chutes, temporais e cara feia. Mais vale queimar fosfato com as coisas simples e gente amiga. Melhor ainda é poder oferecer carinho e respeito sem ter qualquer retorno previsto.

Basta a cada dia o seu mal e qualquer esforço para enfrentar mais que isso é enfadonho. Enquanto engolimos sapos pelo caminho, cicatrizamos as feridas e desviamos os pés das topadas, as flores desabrocham, os pássaros cantam, os filhos abraçam e as mães sorriem. Melhor é fitar os olhos nisto.

Bem aventurados são os que choram, porque todos serão consolados.

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