sábado, 25 de julho de 2009

Terminal

Existe realmente algo de estranho em nós.

Merhan Karimi Nasseri é mais um indivíduo com história peculiar. Ele é iraniano, mas por ter seu passaporte roubado, tornou-se “nacionalidade incerta”. Ficou confinado mais de onze anos no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Sem qualquer documento de identificação, ele não podia entrar em nenhum país, nem mesmo na França, e ficou condenado a viver numa espécie de limbo.

Sua odisséia começou em 1988, quando se apresentou ao balcão da British Airways, em Paris, munido apenas de uma passagem de ida para Londres. Explicou que seus documentos haviam sido roubados numa estação de trem da capital francesa. Contrariando todas as regras, chegou a embarcar no vôo, mas os ingleses o despacharam de volta no primeiro vôo. Como também não podia entrar na França, Nasseri sentou-se num banco e ficou à espera de que resolvessem seu problema.

Nasseri participou dos movimentos ingleses a favor da retirada do poder do xá iraniano Mohammed Reza Pahlavi na década de 70, mas foi perseguido e torturado no Irã. Após conseguir escapar do país, fugiu para a Europa, mas ao fazer escala em Paris, teve seus documentos roubados e teve de ficar retido na área de espera do aeroporto.

E, como um lorde inglês, apresentava-se sempre impecável. Dormia sentado num banco, tomava banho nos banheiros públicos, lavava suas roupas na lavanderia do aeroporto, ouvia música em seu walkman e lia as publicações inglesas deixadas ali pelos passageiros. De vez em quando, dava uma volta no setor de embarque, localizado no piso superior por ordens do médico, que diagnosticou um problema em seus tornozelos devido à falta de mobilidade.

Em 1999, foi concedio a Nasseri um passaporte de refugiado político, que permite viajar para onde quiser na Europa. Aí aconteceu o que ninguém esperava: Nasseri simplesmente não quis sair do aeroporto, afirmando não ter para onde ir. E para complicar ainda mais, após 11 anos morando no terminal, Nasseri perdeu um pouco a noção da realidade, não reconhecendo seu local de nascimento e até mesmo seu nome verdadeiro, recusando-se assim a assinar os documentos para seu asilo político.

Agora alguém, por favor, me responda: por que somos nós tão estranhos? Só entregaram um passaporte ao iraniano após muito tempo, quando Nasseri já não tinha mais para onde ir. Foram necessários mais de 11 anos para que uma graça fosse feita?

Quando ele negou-se a sair do aeroporto, não tomei esta postura como estranha. Como deveria ser a reação de alguém que esperou durante onze anos por algo e, de repente, em poucos minutos, assinando uns papéis, teria que simplesmente ir adiante?

Em 2004, Merhan Karimi Nasseri recebeu da companhia de Spielberg cerca de 300.000 dólares por direitos de sua história, que foi romanceada no filme Terminal, com o ator Tom Hanks.

Existe realmente algo de estranho em nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Expresse sua opinião, ponha a boca no mundo.

Lembre-se que não é necessário concordar comigo, mas em contrapartida, eu posso necessariamente não concordar contigo.

Boas leituras!