terça-feira, 21 de julho de 2009

Parceria

Este ano de 2009 foi o período em que mais meditei sobre minha vida. Eu fiz longas viagens no tempo, rumando aos episódios mais pitorescos de minha jornada existencial e que dessa forma pudesse aprender com cada um. Fazendo um apanhado geral, a música esteve presente na maioria destas minhas reflexões pessoais.

Parte do que sou hoje se desenvolveu através das minhas experiências com a música. Eu nasci ligado em música, por diversas vezes escolhi discos de vinil ao invés de brinquedos, passava horas e horas ouvindo rádio quando nem tinha completado 8 anos. A música era o que me fascinava: imaginava-me gravando em estúdio, fazendo show ao vivo, cantando e tocando com meus amigos. Por mais incrível que pareça sempre me imaginava como contrabaixista...

Enquanto eu era criança, nunca tive ninguém da mesma faixa etária que a minha que comungasse comigo a paixão pela música. Meus amigos normalmente dividiam-se em amantes de futebol ou viciados em vídeo-game. Eu convivia muito entre um grupo e outro, sendo participante diário de cada aventura, mas era no universo da música onde eu realmente me realizava.

Ainda que não tivesse um parceiro de mesma idade, eu não estava isolado no mundo. Meu pai era também um apreciador incurável da música e foi ele quem comprou o meu primeiro aparelho de som: um Polyvox sistema 3 em 1. Era o cinturão de utilidades que faltava ao meu personagem. Foi com a aquisição deste equipamento que comecei a embalar na ladeira do som.

A matemática é simples: se você adquire um carro só lhe falta comprar combustível. Se você tem um aparelho de som 3 em 1, só lhe falta comprar discos de vinil e fitas k-7. E numa tarde de sábado, na loja Palácio Musical da rua Presidente Faria, compramos o primeiro disco de vinil de nosso acervo. Era um disco dos Beatles entitulado “The Collection Oldies But Goldies” – o primeiro disco de vinil que segurei em minhas mãos. Lembro bem o momento em que saímos da loja, pois meu pai foi cantarolando “I Wanna Hold Your Hand”, feliz da vida.

Aqui, neste exato ponto de minha viagem no tempo, é que paro e reflito: se para mim não havia parceiros para dividir a música comigo, muito menos havia para meu pai, que estava comprando seu primeiro disco de vinil com mais de 35 anos de idade. Fico pensando em como era difícil adquirir as coisas naquela época, como era necessário que as pessoas labutassem bastante para juntar dinheiro e ampliar seus horizontes passo a passo.

Não creio que hoje as pessoas trabalhem menos ou que o dinheiro seja mais fácil de ajuntar atualmente. Porém, creio que aquele era o tempo em que comprar carro não nos trazia a oportunidade de comprar um “0 km” como se faz hoje. Era o tempo em que a velocidade da tecnologia e da informação não nos importunava tanto. Era o tempo em que comprávamos um disco de vinil a cada 6 meses e não nos importávamos com isso.

Hoje, a dificuldade de aquisição de um aparelho de som ou um disco de rock é substancialmente menor da que enfrentei em 1987. Hoje um garoto qualquer com menos de 12 anos pode conectar-se a internet por seu celular, compartilhar todos os disco dos Beatles com um colega de uma comunidade do Orkut, tudo isso sem qualquer custo.

Muita coisa evoluiu. Aos meus olhos, a oportunidade de acesso aos registros fonográficos é maior da que havia antes, porém, a dificuldade de encontrar uma parceria ainda é a mesma de antigamente. Essa é a minha análise: eu não evoluí. Parte do que sou hoje se desenvolveu através das minhas experiências com a música.

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